Direto de Brasília
Senado aprova PEC dos Precatórios, que viabiliza Auxílio Brasil; texto volta para a Câmara
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O Senado aprovou nesta quinta-feira (2) a proposta de emenda à Constituição conhecida como PEC dos Precatórios, principal aposta do governo para bancar o programa social Auxílio Brasil.
A expectativa do governo é que o projeto deve abrir espaço superior a R$ 106 bilhões no orçamento. É uma parte desses recursos que será usada para bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
O texto já havia sido aprovado pela Câmara. Entretanto, como sofreu alterações na tramitação pelo Senado, a PEC voltará a ser analisada pelos deputados.
Precatórios são dívidas da União reconhecidas pela Justiça. A PEC limita o pagamento anual dessas dívidas, ou seja, permite ao governo reduzir o valor que terá que desembolsar nos próximos anos para cumprir essas decisões judiciais.
O dinheiro que deixará de ser usado para pagar precatórios, portanto, será usado pelo governo para financiar o pagamento do Auxílio Brasil.
Teto de gastos
Outra mudança feita pela PEC é no período para o cálculo de inflação a ser considerada para o reajuste do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas do governo.
Com a mudança, será maior o índice de inflação a ser considerado para o reajuste do teto em 2022. Isso também permite ampliar o limite de gasto do governo no ano que vem.
No mesmo dia da aprovação na CCJ, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a PEC dos Precatórios é a opção “menos ruim” para o Brasil no momento.
Também na terça, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou que a solução encontrada pelo governo para bancar o Auxílio Brasil cobrou um preço “muito grande” em termos de credibilidade.
Cálculo da Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado, afirma que a PEC dos Precatórios pode gerar uma “bola de neve” de R$ 850 bilhões em precatórios não pagos até 2026.
Articulação para aprovar PEC
A proposta foi aprovada pela Câmara em 9 de novembro. Desde então, foi alvo de diversas discussões no Senado.
Relator da PEC, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE) teve uma série de reuniões com senadores da base e da oposição em busca de um consenso e, até a véspera da votação, apresentou diversas versões sobre o texto.
O principal ponto acordado foi a vinculação de todo o espaço fiscal aberto com a PEC para fins sociais, como:
- financiamento do programa social;
- saúde;
- Previdência;
- assistência social.
Durante as discussões da PEC, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que parte dos recursos seria utilizada para o reajuste salarial de servidores públicos. Também chegou a aventar um auxílio para caminhoneiros.
O eventual uso do dinheiro dessa forma foi alvo de críticas de diversos senadores, que viam o limite do pagamento das dívidas da União sendo utilizado como “cheque em branco” pelo governo em 2022, ano eleitoral.
A PEC foi aprovada com amplo apoio no Senado, inclusive de partidos da oposição. No primeiro turno, o texto foi aprovado por 64 votos a 13. No segundo turno, por 61 votos a 10.
Auxílio Brasil permanente
Atendendo a uma exigência de diversos senadores, Bezerra incluiu na PEC a previsão de a Constituição especificar que “a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza” deve ser objetivo da assistência social prestada a quem dela necessitar.
De acordo com o relator, essa medida dará caráter permanente ao Auxílio Brasil.
A definição de que o Auxílio Brasil não seria transitório foi uma exigência de senadores durante as negociações de Bezerra para aprovação da PEC. Os parlamentares apontavam a possibilidade de o programa ter fins eleitoreiros e durar somente até 2022.
Além disso, a pedido da oposição, a PEC prevê incluir na Constituição que “todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda”.
Nesta quinta, o relator também acrescentou a previsão de que até o final de 2026 o espaço fiscal decorrente da limitação do pagamento de precatórios será usado no programa social e em seguridade social.
Outras mudanças
Nesta quinta, Bezerra anunciou a diminuição do período em que o limite aos pagamentos dos precatórios vai vigorar.
O texto aprovado pela Câmara previa que a regra valeria até 2036. Pelo texto aprovado pelo Senado, a data limite caiu para 2026.
A mudança ocorreu após pressão de parlamentares, que apontavam o risco de criação de uma “bola de neve” de dívida formada pelos precatórios cujo pagamento seja adiado.
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a solução encontrada pelo governo federal para bancar o Auxílio Brasil cobrou um preço “muito grande” em termos de credibilidade.
De acordo com o relator, haverá tempo suficiente para governo “melhor acompanhar o processo de apuração e formação dos precatórios e seus riscos fiscais, mas sem criar um passivo de ainda mais difícil execução orçamentária”.
Outra mudança confirmada por Bezerra no relatório é que precatórios referentes ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) estarão fora do teto de gastos. A medida, segundo ele, abre espaço para o pagamento de precatórios alimentícios.
O relator também definiu os percentuais de pagamento dos precatórios referentes Fundef. O texto prevê um cronograma para o pagamento de três parcelas anuais, com o pagamento de:
- 40% até 30 de abril de 2022;
- 30% até 31 de agosto de 2023;
- 30% até 31 de dezembro de 2024.
Há, também, a previsão de que as receitas devem ser aplicadas “na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público e na valorização do magistério”.
Comissão mista
Bezerra também incluiu no relatório a criação de uma comissão mista no Congresso, composta por deputados e senadores, para fazer uma análise sobre o pagamento dos precatórios em um prazo de um ano.
O colegiado contará com a cooperação do Conselho Nacional de Justiça e com o apoio do Tribunal de Contas da União (TCU) e terá, entre as atribuições, apurar o desempenho dos órgãos do Executivo responsáveis pela representação judicial e pelo acompanhamento dos riscos fiscais decorrentes das ações judiciais em curso.
As conclusões da comissão devem ser encaminhadas aos presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
G1.globo.com